Tratamento Interdisciplinar na Dor
- dralucianabuin
- 8 de out.
- 3 min de leitura
Um novo olhar para o tratamento da dor
A dor crônica é uma condição complexa, multifatorial e subjetiva — influenciada por aspectos biológicos, psicológicos, sociais e ocupacionais. Nenhum profissional isoladamente é capaz de abordar todas essas dimensões. É por isso que o tratamento interdisciplinar é hoje considerado o padrão-ouro no manejo da dor, conforme preconizado pela IASP (International Association for the Study of Pain) e por diversas diretrizes internacionais (Nicholas et al., 2019; Gatchel et al., 2014; IASP, 2021).
No modelo interdisciplinar, diferentes profissionais — médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e educadores físicos — atuam de forma integrada e colaborativa, com metas terapêuticas compartilhadas e centradas na pessoa. O objetivo não é apenas reduzir a dor, mas restaurar a funcionalidade, autonomia e qualidade de vida, valorizando o sentido e a participação ocupacional. Essa integração de saberes permite compreender a dor em sua totalidade e oferecer intervenções mais humanas e eficazes (Turk & Okifuji, 2020).
A presença brasileira na Força-Tarefa Interdisciplinar da IASP

Em 2021, tive a honra de ser a única brasileira convidada a integrar a Presidential Task Force on Interdisciplinary Pain Treatment da IASP, ao lado de grandes nomes internacionais como Lorimer Moseley, Kathleen Sluka e Johan Vlaeyen.
Essa força-tarefa teve como propósito definir diretrizes e metas terapêuticas baseadas no modelo biopsicossocial da dor, orientando recomendações oficiais para as classificações da CID-11. Minha participação nesse grupo representou não apenas uma conquista pessoal, mas também uma vitória da Terapia Ocupacional brasileira, inserindo nossa categoria profissional nas discussões globais sobre manejo interdisciplinar da dor e políticas internacionais de saúde.
A contribuição da Terapia Ocupacional nas equipes de dor
A Terapia Ocupacional tem papel essencial no cuidado interdisciplinar à pessoa com dor crônica. Quando a dor se prolonga, ela impacta diretamente a forma como o indivíduo vive, trabalha, se relaciona e realiza suas atividades significativas. O terapeuta ocupacional atua justamente na reconstrução desse cotidiano, ajudando o paciente a retomar o engajamento em suas ocupações, reorganizar rotinas, lidar com limitações e redescobrir propósito e prazer na vida.
Estar presente em espaços internacionais de decisão científica, como a força-tarefa da IASP, reforça a relevância da Terapia Ocupacional na saúde global. É um reconhecimento da importância do olhar ocupacional para o manejo da dor — um olhar que une ciência, prática e humanidade.
Conclusão
O tratamento interdisciplinar da dor é mais do que uma metodologia: é um compromisso ético e humano com o cuidado integral. Profissionais que atuam juntos, com objetivos comuns e diálogo constante, proporcionam aos pacientes melhores resultados clínicos, funcionais e emocionais. A presença de terapeutas ocupacionais nesses espaços é essencial para garantir que o cuidado com a dor continue sendo centrado na pessoa, nas suas ocupações e no sentido de viver com qualidade — mesmo diante da dor.
Referências
American Occupational Therapy Association. Role of Occupational Therapy in Pain Management. American Journal of Occupational Therapy, v. 75, suppl. 3, 2021.
Côté, P. et al. Management of chronic musculoskeletal pain in primary care: A systematic overview of recommendations from international evidence-based guidelines. Pain Practice, 20(4), 2020.
Gatchel, R. J. et al. Interdisciplinary chronic pain management: Past, present, and future. American Psychologist, 69(2), 2014.
International Association for the Study of Pain (IASP). Interdisciplinary Pain Treatment Task Force. 2024. Disponível em: https://www.iasp-pain.org
Nicholas, M. et al. The IASP classification of chronic pain for ICD-11: Chronic primary pain. Pain, 160(1), 2019.
Turk, D. C.; Okifuji, A. Psychological and social factors in chronic pain: Evolution and revolution. Journal of Pain, 21(3), 2020.



Comentários